25.3.08

Amor absoluto

Eu poderia, na ternura da vida,
a renúncia dos nomes, amá-lo,
sabendo-te apenas homem,
se te entendesse família.

Se te fosse irmão.

Seremos, se no mundo tivermos
a moradia.
E temos.

Chega um dia, absoluto,
em que um corpo
são todos,
um abraço, muitos,
e cada único,
idêntico em irmandade.

Chega-nos um clarão,
esse dia,
que cega nosso discernimento.

O raro é conceito, à cada boca fresca que o fala.
O amor é julgamento, à cada peito ardendo a sua faca.

Os milhares de pensamentos cobrem agora cada
simples nó nas gargantas.
Nós em todos.
E as respostas, pessoais,
engasgam a saliva, na corda engolida,
subindo a língua de todo homem,
mentida em palavras, vagas,
voltando em fomes.

O branco é o preto, o rubro, o lilás.
Um final dos sexos, a fêmea é clarão,
o macho é clarão, vemo-nos cegos.

Tardes.
À tempo.

Braços
idênticos.
Idênticos, os ossos,
os membros nós temos.
Temos também paixão,
como quem teme.

Olhares
são do tempo, cavidades.
E relevos.
E tudo mais dos homens,
monumentos.

Olhos que lacrimejam
se permanecem abertos.
E de piscos em piscos,
nossos olhares caminham.

Jovens, ao intelecto.
Crescidos, ao espírito.

E se tiro a blusa na chuva,
é por ela, molhada, não por minha secura,
a loucura.
É pelo mundo meu livro,
não por ter-me despido, a poesia.

O amém dos nossos pedidos,
é a vida, mas a vida por propósitos
maiores que ela. As dúvidas
respondidas, sem fome nas línguas.

Poderias amar a mim,
se me entendesse como a si:
de carnes e almas um rebento,
se por eles liberto.

De dualidades.
Sob o olhar de asa,
o longe nos esmaga semelhantes.

Eu poderia, na tortura da vida,
te acolher irmão, amá-lo sob o clarão,
como alguém afundando no mesmo barco,
amá-lo, com o tremor das vontades
e a doçura da voz.
Não sei teu nome, sei-te homem,
braços e paixões.

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