VIII
PALAVRAS SAFRA 3000
A.C.
-
Para Marja Calafange
...Imagens incendiadas...
E SILENCIADAS.
Como se a vida inflamasse.
E filhos com lavagem cerebral.
Como se a verdade fosse herança e a
palavra santa,
inquisitória.
A humildade é o livro de desenhos
de quando Buda era criança.
-
-
Diz-se por aí mais que as línguas.
Que foram eles, camponeses livres,
conhecer os livros da minha infância.
Os camponeses me invadiriam. Suas
lágrimas me invadiriam.
Seus filhos me seriam filhos.
Houve um dia, vivido no escuro da
consciência,
que esse camponês
leu uma verdade demasiada.
Num vigor indescritível.
Com a voz alterada indescritivelmente.
E um amor tão obscuro à luz desses
nossos dias,
que me cegam.
Disse, se é que minha lembrança permite
repetir,
– vivo acostumado a recriar mentiras –,
disse primeiro com a pressa nos passos:
subiu escadas num teatro opressivo,
sob olhares serpentuosos.
Eu o seguia firme até um holofote
de onde vi o rosto famoso da
humanidade.
“Requer coragem dizer
que em volta dessa espada tem um
lume,
e nessa luz,
pessoas desenhadas,
em lutas e em mortes.
Requer coragem para dizer
que temos um armário de sombras nossas,
antepassados, de dor,
e nesse armário temos marcado um 6 e um
9.
Aponta-se um cofre.
Requer coragem para dizer
que no cavalo tivemos peito
inflado.
E no nosso peito existia a face da vida
virada pra baixo,
de olhos cerrados e patriotismo na
lei.
Requer coragem dizer que fomos amados,
amados!
E, nesse amor,
mudamos debaixo do sangue que bebiam as
tardes,
tornando-nos arte. Não reis.
Requer coragem dizer
que nas paredes,
nos muros,
no tapete bordado de linho,
há renegados papiros da verdade
e a tinta que dizia que coragem
é viver esses dias que vivo.
Covardia é calar desse ato o
braço;
a voz; a nauta; e a história de amor e
paz que há de ser escrita.
Requer uma vida”.
Calou-se a plateia, cheia de álcool e
palavras venéreas.
-
- -
A linguagem tem a primeira palavra
nesse discurso.
– Ignore o testemunho dos homens
esclarecidos
e, ao invés disso, pensemos nos mitos e
na palavra esculpida –
A linguagem é composta de toda a
natureza.
Monções.
Atlântida.
Hermes nuns séculos.
E nas plantas.
Insetos.
Nas ancas,
nos beijos.
Na nuança de teu movimento.
Nas crenças.
No grito infinito de cachoeiras.
A palavra é essência.
Nas águas conduzindo uns navios.
Papiros.
Na mente migratória
de ignorâncias distantes a sapiências
inerentes.
O olhar, ruínas.
Os corações, chamas.
Guardas contigo o turbilhão de
humanidade.
Havia muito espaço para o silêncio.
E formas-pensamento.
Escondas o teu nome
na obra de tua vida. Que esta te
proclame
inteiro.
Permita-te, Homem, à vigilância do
ignorante;
permita-te
aos pés abertos à palavra inexplorada,
egípcia,
palavra distendida da natureza;
palavra-crocodilo; serpente; a
fecundação pelo vento;
a liderança da abelha; palavra; a
predição do mel.
Escuta a pequena horta do verbo.
O mar de trigo
de quando digo
“Quero!”
Um escaravelho em regeneração. A íbis
que cura as suas próprias feridas.
A medicina.
Escuta,
porque o fim é certo, escuta,
a luz que desata em estradas.
A carne, o osso e os lugares
do AMOR.
“Eu te amo”.
.
O silêncio que de ti perdemos... No
espaço.
Amo...
A bondade de me enlaçar num gesto,
numa fração de milênios,
num relâmpago em mim eterno,
que é o merecimento da tua amizade; da
tua essência-carruagem
em mim: eterna viagem enamorada por tua
saudade.
Que prossiga a tua presença
entre as minhas flores secas, entre as
páginas violáceas que te
guardam
e absorvem a tua cor no texto. E tua
flor marcada por aquelas
palavras.
Guardando a página.
Num “Eu te vejo”.
Na voz que resguarda.
“E quando fechares teus olhos, tua
idade segue comigo.
Eu te levo pro futuro
Nuns versos”.
Guia; estrela d’alva.
Estrela escrita certa entre olhares
tortos.
O amor é uma palavra difícil.
Se é que existe difícil; ou palavra; ou
nada além de meus amigos,
Marja, nada além.
-
- - - -
Os dias de hoje têm sentido, uma luz
vinda dos dias futuros.
É como se caísse sobre nossas cabeças
um dilúvio de partituras
de Eras que virão,
tentando dizer as verdades eternas
para raros ouvidos absolutos.
A música se espalha em silêncio.
É um som ambiente no contexto de nossas
casas.
É harpa.
Planeta de regeneração e um dedilhado
de akásicos.
Porque amor é o príncipe que fugiu do palácio
para mendigar alimento aos pobres que
conhecem a caridade.
E sabem escutá-lo atentamente.
Leio coisas tuas
ResponderExcluirpelo prazer de as saber belas
saidas da ponta comida do teu lápis
dos teus dedos
no caderno que dorme na gaveta do canto
e ganha vida em cada folha que enches
.
.
.
deixo agora palavras que não são minhas
Saramago escreveu-as, e eu de tanto as repetir cravei-as nos lábios, nos sons, no peito
.
.
diz ele assim:
"É agora necessário ir ao deserto destruir a pirâmide que os faraós fizeram construir sobre o dorso dos escravos e com o suor dos escravos
E arramar pedra a pedra porque faltam os explosivos mas sobretudo porque este trabalho deve ser feito com as nuas mãos de cada um"
.
.
Boa noite, R