12.10.09

cont. do prefácio (pqp, só sai poesia dessa merda de cérebro)

Imediatamente, iluminarei os teus olhos, leitor, com a percepção do passado.

Mas não pense olhar agora para trás. No máximo, se a ti parecer prudente, feche os olhos no momento da tua viagem, feche-os.

Sinta a umidez da água que correu teu rosto. Há vívida na pele, não há?

“No meu primeiro dia” lembra-se Lício, desperto pela verdade de menino, da infância, aquela que nutre ainda a imensidão de noite que consente no silêncio do espaço. Ele paira numa estrela distante daquela memória, viva no passado, porém tão intensa ainda. Memória que reluz em todo o lugar. Que atinge até mesmo o sabor dessa viagem, que poderia ser marcada com a brasa das lembranças inesquecíveis, caso eu ainda estivesse vivendo o presente. Algumas coisas não morrem, cavalgam lado a lado numa carruagem de vento que está sempre conosco.

“No meu primeiro dia ao teu lado, fingi que não te reconhecia de outras vidas, tamanha a intimidade que rendi.”.

Lício é um simples trabalhador, homem de suave honestidade. Suave perversidade. Íntegro. Muito curioso, feito de perguntas. A visão que agora tinha do planeta Terra, trazia sentimentos intermináveis e alguns desconhecidos. Olhe para um amigo morto e saberás um pouco, leitor, dessas sensações. Não abandonei o planeta, mas não tenho mais comigo o aroma daquelas terras. Nem sei se me vêem ou se me procuram. O fato é que algumas coisas precisam ser vislumbradas de bem longe até que fiquem pequenas e caibam em minhas mãos. Falaremos delas mais tarde.

Por entre os percursos de realidade, caminhei sempre com as mais indecifráveis sensações, invocando a humildade de reconhecer nelas os seus mistérios e as minhas ignorâncias.

Não te conheço ainda, Lício, porque você é para onde caminha o meu estudo. Estudo homens como você. Sei que nada te sei: ...da razão coordenada; do segmento e da evolução humana; de um universo de pensamentos; de origens seculares; tentativas de mitos; de narrativas em linguagens matemáticas; de átomos propostos no teu corpo – que para mim é uma chama periódica por dentro – da razão que, seguramente, só sei sentir. Lício.

Contigo transformo idéias de nós mesmos, como se fôssemos hipóteses de gente. A verdade é que somos uma perfeição sem noção da complexidade – ou simplicidade? – disso.

Simplicidade!

Enquanto isso um experimenta o outro, como quando você me levou para um lugar só seu, numa noite muito parecida com essa, muito azulada. Eu dirigia cegamente, mas você, você me dirigia em silêncio com o caminho traçado à minha frente. Entramos num prédio desconhecido pra mim, mas teu velho território, aparentemente. Subimos escadas feito invasores. Tive mais coragem em encará-lo porque estávamos na penumbra e assim meu rosto fica mais bonito. O trajeto ainda incluía uma passagem estreita, para corpos magros, que daria finalmente num terraço. “Eu ficava aqui quando era menor, sozinho.” Disse. Pronto, ficava sozinho. Ficava.

Dessa vez determinamos uma mudança naquele passado. Ao levar-me até lá, passei a fazer companhia ao pequeno Lício, que agora me via e tinha um amigo. Tornamo-nos amigos para a vida toda: para o passado – já faço parte -, presente e futuro. A vida toda não passa de uma consciência do tempo.

A vida toda não passa.

Sou um espírito cheio de segredos e nenhum deles será compartilhado aqui nessa história, pois que prefiro dizer a quem realmente escuta, apesar de não julgá-los analfabetos só porque lêem isso como se fosse uma autobiografia sua. Julgo analfabetos porque não lêem como se ouvissem a biografia de outra pessoa. É difícil colocar-se no lugar do outro. É difícil porque não sabem amar. Julgo mesmo. Contarei o que vale a pena ser dito. Desejo que os corações letrados de humanidade sejam capazes de penetrar nas páginas em branco que deixarei de escrever. É possível que eu me apaixone por você, e que eu faça dessa nossa relação um motivo de desabafo e de conspirações.

A ciência, a arte e a religião serão a mesma coisa. As coisas primárias. Depois delas – e além delas – tudo o mais será uma transformação. A união independe dos propósitos distintos. O contraponto é também uma soma. Só ao lado do complementar é possível realçar-se ao máximo.

Quando isso é dito, há um desafio enorme enunciado; uma batalha entre invencíveis ou entre derrotados, sem que a sutileza dessa resolução seja contemplada; há o tormento das diferenças entre raças, argumentos, escolhas e ambições terráqueas: a – com a licença do termo – lunática importância de conviver com os opostos. A incriada sabedoria de ser oposto à nada.

Façamos o nosso sexo.

2 comentários:

  1. Léxico da poesia do cérebro (merda, pqp)
    2 dias inteiros este texto aqui publicado,
    Eu esperava por ele, e ele aqui

    Li de passagem,
    li devagar,
    voltei a ler com cuidado.
    Continua um mistério, continua longe, incógnito
    E pela primeira vez vejo aqui preto no branco os lugares, os nomes, as pessoas e as coisas que fazem parte da vida.
    E onde se lê “No meu primeiro dia ao teu lado” deve ler-se render-se.
    Onde se lê “noção da complexidade – ou simplicidade” deve ler-se cumplicidade.
    Onde se lê “um lugar secreto só meu onde eu ficava quando era menino” deve ler-se “um lugar secreto só meu e agora também seu”
    Onde se lê “nas páginas em branco” deve ler-se as páginas escritas, com sonhos, lágrimas, sangue que pulsa e que ninguém vai ler”
    Onde se lê sexo, deve ler-se sexo.
    E onde se lê “lunática importância” deve ler-se “Que bom, R está mais vivo que nunca!”

    Ontem assisti “Divã”. Ri, feliz. Lembrei de si

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  2. olha! te achei sem querer!
    gostei muio deste e dos poemas abaixo tbm!

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