30.8.07

Pisco gritos escorridos

Parece-me que o desejo esgota-se ainda pingando. Esmorece.

Inundando as ruas por onde percorrem meus anseios mundanos.

No lascivo toque não me abraçam, não há a força íntima pulverizando distâncias tórridas:

nas unhas que não arranham ficam presas as minhas costas. Ardidas sem atrito. Virgens de novos abraços.

Re-insiro meu choro nos olhos por serem as mesmas as dores que hidratam meu grito. Pisco.

Sob a chuva de gozos, meus esgotos vêem nas nuvens a última polvorosa lança,

derramando nos corpos o penetrante fulgor que estima-nos sonha-dores na cama.

Faço-me de fontes, poesia que escorre como seiva, na qual, afogados, meus lábios não beijam, e, sedentos, morrem.

Ligado ao teor inócuo de viver nuvem e distante, sonho ser homem.

Pois corrói-me a elevação que meu vento percorre, as alturas temem estarem ausentes da terra que movem.

Desejo ser visto com olhos que me alcancem, falado por bocas que me mordem,

Sou amado por aqueles que escondem de mim a carne, mantendo minha espiritualidade exposta ao lânguido julgamento dos montes:

sempre perfeitos e difíceis demais para serem escalados. A atração pelo penhasco lhe invade?

A gravidade auxilia a sua vontade de amar o que estiver a ti nivelado?

Ao sol suas asas recusam-se a voar, queimam próximas do pecado.

Enquanto, à luz da noite sob o asfalto que fazes seu caminho, o breu aproxima seus desejos obscuros.

Breu - que o sol, afastado, emana exilado - refletindo nas suas ruas os meus carinhos. Guiando os seus rastros.

O sol é o amor que doa seus raios e, em troca, põe-se abandonado e esquecido pelos homens que o idolatram.

Sinto meu corpo arder tanto o quanto brilho,

mas amar a mim é tão impossível quanto lembrar que também vivo corpóreo, e, o desejo, esse desejo não gemido,

carece do seu toque nos meus sentidos, precisando do contato homem para ser divino.

Ponho-me e nasço solitário. Pisco.

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